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Maria João Cantinho



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Três poemas

08-08-2015 17:55

Do assombro lírico

 

Sentas-te na sombra e sabes

que apenas o crepúsculo acalma

a tua urgência, a tua sede de chuva

e do avesso das coisas

e da noite o assombro

o desvario de palavras,

essa urgência que rasga o real

uma garra de nada, uma pedra

no teu caminho.

 

E procuras o escopro,

o arado alquímico, o compasso

e o ritmo matemático do verso,

esse golpe certeiro e lírico,

essa asa de sonho que implode a vida

e varre a melancolia,

o estremecimento mínimo.

 

O poema nasce

com a sua luz de abismo

irrecusável.

 

 

 

Irmãos da Luz

 

 

Somos irmãos da luz

e bebemos o sonho

como quem nasce da água

bebemos a voz

que desce da noite.

 

Somos irmãos da terra

cantamos

e dançamos o fogo

olhamo-nos como espelhos

tememos as palavras dos homens.

 

Somos da sombra os nomes

lavrados no silêncio

apascentados na alba

e tudo nos habita:

lua, passagem, círculo.

 

Somos irmãos da escuridão

olhamo-nos como espelhos

dessa luz íntima e sonhante

na dobra do poema.

 

 

 

Seguir o passo lento

 

Seguir o passo lento dos animais

o seu ritmo milenar

a respiração das areias

e do vento, na senda dos nómadas,

caminhando por entre

dias e noites, sonhando linhas

de oásis e sombra.

 

E, página a página, se escreve

esta luz, voz imemorial,

seguindo o passo dos animais

escutando o coração das estrelas,

caminhando no vazio do horizonte.

 

E, linha a linha, como um rio

de um caudal, onde transborda o leito,

escreves, revirando a noite,

procurando espelhos, convocando sombras,

nesse oásis que é caminho e muro,

buraco e precário limiar,

na senda de Juan de la Cruz,

do persa Rumi, de Eckart

e de todos os famintos

de luz e de salvação.

 

O olho animal aguarda-te.

 

A publicar brevemente, in Do Ínfimo