Sinopse: A relação entre Bertold Brecht e Walter Benjamin intensificou-se durante o período de 1934, em que o filósofo esteve na casa de Brecht na Dinamarca, em Svendborg, desde Junho a Outubro. É justamente nessa época que Walter Benjamin discute com aquele a sua conferência (proferida em 1934) intitulada «O Autor como Produtor», que dará origem ao texto «O que é o Teatro Épico?». Sabemos que esse era o conceito que o dramaturgo utilizava para caracterizar a sua própria obra.
Não é propriamente sobre o teatro de Brecht que me debruçarei, mas essencialmente sobre a reflexão que Walter Benjamin desenvolve sobre esse conceito, a partir de conceitos que lhe são caros e que tem vindo a trabalhar particularmente na década de 30 e que desenvolverá noutros textos da mesma época. Refiro-me ao conceito de montagem, que lhe proporcionou uma abordagem metodológica e crítica, visando a desconstrução do ideal de cultura burguesa, unitária e totalizante, bem como o de interrupção, crucial na sua interpretação e leitura da história. Para tal, utilizarei essencialmente o texto «O Autor como Produtor» e «O que é o Teatro Épico», mas cruzarei, ainda, a minha análise com textos sobre a questão da obra de arte na modernidade, onde o autor desenvolve as consequências do dadaísmo e das técnicas da montagem no cinema como modo de romper com o paradigma de uma arte cultual e burguesa e a sua substituição por aquilo que designava pela cultura de massas, no contexto do materialismo dialético, em que a arte perde o seu valor cultual para assumir uma função essencialmente política.
A questão que aqui se coloca, à laia de provocação, é a de saber qual a função do teatro e que espécie de relação se estabelece entre o palco e o público, entre o texto e a representação, entre o encenador e o actor. E reflectir sobre esse jogo que se entretece nas suas condições de produção.
Maria João Cantinho
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